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terça-feira, 7 de outubro de 2008

JOSEPH STIGLITZ: SEM MEIAS PALAVRAS

Fonte: HSM

Prêmio Nobel de Economia é crítico severo do neoliberalismo. Ao analisar a crise americana,
defende a redefinição de um sistema regulatório que, inclusive, impeça que os incentivos aos
executivos de instituições financeiras premiem o que chama de “mau comportamento” e
“pilhagem dos consumidores”.

“Os americanos perderam a fé não somente no governo, mas em sua filosofia econômica: um
novo assistencialismo empresarial, que é mascarado por uma ideologia de livre-mercado”.
Essa é apenas uma das inúmeras contundentes afirmações que Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel
de Economia de 2001 e palestrante da ExpoManagement 2008 da HSM, usa para avaliar o
desempenho questionável das autoridades americanas diante da tsunami econômica que
atingiu os Estados Unidos.

O Tio Sam está enfermo e o mundo todo está em guarda. “Há um tempo, nos disseram que
estava tudo bem. Seis meses depois, que a economia estava melhorando. Agora, que o
paciente precisa de uma grande transfusão. Mas todo mundo vê que o paciente sofre é de
hemorragia interna”, disse Stiglitz em sua coluna de 1º de outubro no jornal inglês The
Guardian.

De fato, quase todo mundo vê. Não é à toa que 74% dos americanos rejeitam a política
econômica de George Bush. Mas Stiglitz não é só mais um crítico implacável de uma situação
evidentemente grave. Ele também oferece sua receita de solução. Além disso, contrário ao
fundamentalismo de livre-mercado, o economista foi um dos que anteviram o risco que os
Estados Unidos corriam. E acertaram.

“Monstruoso.” Sem meias palavras, assim Stiglitz adjetiva o plano de socorro ao setor
bancário, em entrevista concedida ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung. Para ele,
o plano que Bush tenta aprovar no congresso americano perversamente transfere o problema
para o contribuinte americano. Segundo Stiglitz, o filme é praticamente uma reprise. Há cerca
de dez anos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Tesouro americano tentaram ajudar o
Brasil, a Argentina, a Coréia, a Tailândia, a Indonésia e a Rússia. Embora Wall Street tenha se
salvado, recebendo de volta quase tudo o que perdera, nós, os contribuintes desses países,
pagamos pelos erros do mercado financeiro. Para o economista, agora a conta pode sobrar
para o povo americano. É o que faz a diferença nessa peleja entre Bush e os parlamentares
americanos.

Pela intervenção na economia

Stiglitz considera ser necessário um pacote de forte estímulo à economia, de modo a aumentar
os benefícios aos desempregados e a ajuda aos estados, que correm o risco de ter que cortar
gastos, o que pioraria a situação. “Precisamos de mais investimentos tanto no setor público
quanto no privado”, diz no The Guardian.

O economista é conhecido mundialmente pelas severas críticas que faz à teoria do laissez faire
(deixai fazer), o mote do liberalismo defendido por Adam Smith no século XIX. O laissez faire
virou fundamentalismo de livre-mercado na boca de George Soros, ou neoliberalismo. Segundo
Smith, a economia de mercado opera sob uma mão invisível, que promove o equilíbrio sócioeconômico
e orienta os indivíduos, em condições ideais. Raro, contudo, é que as condições
sejam ideais. À época em que recebeu o Prêmio Nobel, Stiglitz não se furtou a comentar que
as doutrinas neoliberais baseavam-se em erros de interpretação das teorias econômicas. Foi
justamente derrubando Adam Smith que Stiglitz se fez merecedor do Nobel (veja mais
detalhes ao final deste artigo).

Como a maioria dos republicanos conservadores, Bush é contrário às intervenções na
economia. Teve que dar o braço a torcer, contudo. Ao apelar ao congresso, justificou-se: "Eu
tenho profunda crença nas trocas comerciais livres, por isso me oponho a qualquer intervenção
do governo. Mas essas não são circunstâncias normais”.
Em entrevista ao jornal The Huffington Post, Stiglitz afirmou que a crise em Wall Street é para
o fundamentalismo de mercado o que foi a queda do muro de Berlim para o comunismo: “Ela
diz ao mundo que esta maneira de organização econômica não se sustenta. Este momento é
um marco do fato de que as demandas pela liberalização do mercado financeiro foram
equivocadas”.

A hora do mea culpa

Stiglitz considera que é relevante ir a fundo às causas da crise, de modo que se possa evitar
ou amainar novas crises. Em sua opinião, falharam os reguladores federais, como o Federal
Reserve (Fed, o Banco Central americano), mas também os executivos das instituições
financeiras estão no cerne do problema.

O Fed teria falhado como regulador e como condutor da política monetária. “Seu excesso de
liquidez (o dinheiro disponível para empréstimos a baixas taxas de juros) e os regulamentos
frouxos levaram a uma bolha da habitação. Quando a bolha estourou, os empréstimos
excessivamente alavancados e feitos em cima de ativos superavaliados, se deterioram”,
explica Stiglitz. Historicamente, a expansão acelerada dos empréstimos tem sido responsável
por uma grande parcela das crises e esta não é exceção, segundo ele.

Além disso, para o economista, o próprio Alan Greenspan, um regulador-chave, não acredita
na regulação. “Nosso país sofreu as conseqüências de ter escolhido como regulador-chefe da
economia alguém que não acreditava na regulação”, observa. “Quando os excessos no sistema
financeiro foram notados, eles apelaram para a auto-regulação, o que é um paradoxo.”

Greenspan presidiu o Fed entre agosto de 1987 e janeiro de 2006.
Após o problema da bolha tecnológica, que levou ao corte de juros de 2001, e o aumento do
preço do petróleo, decorrente da Guerra do Iraque, que fez com que o dinheiro que era gasto
em bens americanos fosse para o exterior, o Fed, na tentativa de manter a economia
funcionando, teria, na visão de Stiglitz, substituído a bolha tecnológica pela bolha da
habitação. “A poupança doméstica caiu para zero, ao nível mais baixo desde a Grande
Depressão. O Fed conseguiu manter a economia, mas de maneira míope. Os Estados Unidos
estavam sobrevivendo de dinheiro emprestado e de tempo emprestado”, avalia Stiglitz.

Quanto à culpa que cabe aos executivos das instituições financeiras, o caso seria relativamente
simples e, talvez, óbvio: esses profissionais e seus empregadores eram premiados pelo
desempenho de curto prazo, por meio de incentivos que não estavam alinhados com as
necessidades da sociedade. “Eles eram muito bem remunerados por administrar riscos e alocar
capital, o que deveria aperfeiçoar a eficiência da economia de modo tal que justificasse sua
generosa remuneração. Mas eles erraram ao alocar o capital e ao gerir o risco. Eles geraram
riscos.” Para Stiglitz, a estrutura de incentivos encorajava a assunção excessiva de riscos:
“Construímos incentivos para o mau comportamento e atingimos o objetivo”.

Redefinindo o sistema regulatório

“Precisamos, claramente, não apenas de regulação, mas de uma redefinição do sistema
regulatório”, defende o economista, não se furtando a apontar caminhos. Para isso, Stiglitz
considera um pré-requisito a atuação de políticos e criadores de políticas que acreditem na
regulação.

Ele também postula que se deva implantar um sistema que possa lidar com a expansão dos
instrumentos financeiros e das finanças. Algumas de suas recomendações foram elencadas em
seu artigo do site da rede CNN:
1. Corrigir os incentivos aos executivos, atenuando os incentivos por assunção excessiva
de riscos e por foco no curto prazo. Bônus sobre retorno em cinco anos, por exemplo, em vez
de sobre o retorno em um ano, contribuiriam para tanto.
2. Aperfeiçoar as informações aos acionistas a respeito da diluição do valor das cotas em
função de opções de ações, pois as opções de ações encorajam a contabilidade desonesta e
precisam ser freadas.
3. Criar uma comissão para a segurança do produto financeiro, de modo a garantir que os
produtos comprados e vendidos pelos bancos, fundos de pensão etc. sejam seguros para o
“consumo humano”.
4. Criar uma comissão de estabilidade dos sistemas financeiros, para monitorar o sistema
financeiro como um todo, reconhecendo as inter-relações entre as diversas partes e evitando a
alavancagem excessiva.
5. Impor outros controles para aperfeiçoar a segurança e a saúde do sistema financeiro,
que atuem como radares limitadores dos empréstimos.
6. Melhorar leis de proteção ao consumidor, incluindo leis que impeçam o empréstimo
predatório.
7. Melhorar leis de concorrência.

A respeito da concorrência, Stiglitz não suaviza as tintas: “As instituições financeiras foram
capazes de pilhar os consumidores devido à falta de concorrência. Não podemos nos ver em
situações em que uma empresa ‘é muito grande para falir’. Se é grande assim, deve ser
dividida”.

Mais sobre Stiglitz e suas idéias
Joseph E. Stiglitz é professor de Economia da universidade da Colúmbia. Foi economista-chefe
e vice-presidente do Banco Mundial na administração Clinton, além de presidente do Council of
Economic Advisers, no mesmo período. Hoje, apóia a candidatura de Barack Obama à
presidência dos Estados Unidos.

Stiglitz fez parte do grupo de especialistas em mudanças climáticas que compartilhou o Prêmio
Nobel da Paz em 2008. É co-autor, com Linda Bilmes, de Three Trillion Dollar War: The True
Costs of the Iraq Conflict.

É um crítico severo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Afirma que a instituição pressiona
os países pobres à concorrência internacional sem que antes tenham desenvolvido a devida
proteção democrática aos seus cidadãos.

Em 2001, recebeu o Prêmio Nobel de Economia (junto com George Akerlof, da Universidade da
Califórnia, e Michael Spence, da Universidade de Stanford) por uma teoria que chama a
atenção para as desigualdades entre ricos e pobres e que põe por terra a teoria da mão
invisível de Adam Smith: “A razão pela qual a mão invisível é invisível é por que ela não existe
ou, quando existe, está paralítica”, disse, em aula magna que ministrou ao receber o prêmio.

Stiglitz é um pioneiro da teoria da informação assimétrica, que postula que as partes de uma
transação não têm igualdade de informações. Um dos lados estará em desvantagem, pois
informação é poder. Essa idéia contradiz antigas teorias econômicas, que se baseiam na
existência de informações perfeitas. A teoria da informação assimétrica põe em xeque a
sabedoria do mercado e auxilia a compreender muitos fenômenos, inclusive o desemprego e o
racionamento de crédito.

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